Informações
desencontradas estão se propagando mais do que o vírus. Veja a verdade
sobre dez afirmações que se espalham desenfreadamente.
O mosquito transgênico da Oxitec, uma das vítimas dos boatos sobre o zika (Foto: Paulo Whitaker/Reuters) |
Do G1, em São Paulo
Um
problema que está se espalhando com velocidade maior do que o zika pelo mundo é
a desinformação. Boatos disseminados via redes sociais e aplicativos de
mensagem atrapalham os esforços de combate ao vírus, e autoridades de saúde se
esforçam para debelá-los.
Muitas
histórias já foram desmentidas, mas alguns boatos se relacionam a perguntas
para as quais ainda não há resposta. Para complicar a situação, mesmo fontes de
informação suspeitas às vezes espalham informação correta, o que torna mais
difícil para os leigos saber em quem confiar.
O G1 selecionou
aqui dez afirmações de proliferação rápida na internet e esclarece quais são
verdade, quais são mito, e quais ainda são incertezas:
- O mosquito transgênico
deu origem à epidemia de zika.
MITO
Sites conspiratórios
divulgam uma história segundo a qual o mosquito transgênico da empresa Oxitec,
um inseto estéril criado para neutralizar fêmeas do Aedes aegypti,
originou um inseto capaz de transmitir o zika. A teoria por trás da afirmação é
bastante tortuosa e vaga, afirmando que mosquitos estéreis sobrevivem e se
tornam "monstros". Conspiracionistas afirmam que bilionários
americanos estariam por trás de um plano para aniquilar populações de países
pobres.
A história não tem nenhum fundo de realidade.
Alguns mosquitos da Oxitec (5%) de fato acabam gerando filhotes, mas não deixam
prole de terceira geração. Mesmo que deixassem, o mosquito alterado não tem
nenhuma diferença para aquele que é liberado. O zika se originou de macacos na
África, e um mosquito não conseguiria gerar um vírus a partir do nada. Testes
realizados até agora, além disso, indicam que a população de Aedes decresce,
não aumenta, sob a presença do inseto transgênico.
- A microcefalia foi
transmitida por vacinas de rubéola vencidas.
MITO
A vacina contra a rubéola é
contraindicada para grávidas, e em nenhum caso registrado de microcefalia no
Brasil gestantes relataram ter recebido o imunizante. A vacina é normalmente
aplicada em crianças.
As autoridades de
saúde no Brasil, além disso, fazem fiscalização para garantir o descarte de
produtos médicos vencidos, e nenhum caso de aplicação de vacina vencida foi
relatado durante o período de epidemia da zika. Segundo a Fundação Oswaldo
Cruz, mesmo que a vacina vencida tivesse sido aplicada, o único problema é que
ela não será eficaz contra a rubéola, e ela não oferece potencial de danos
neurológicos.
Cientista Scott O'Neill com mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia (Foto: Eliminate Dengue Program ) |
MITO
Um projeto da Fiocruz usa bactérias do gênero Wolbachia
para enfraquecer o Aedes aegypti e tem como objetivo
atrapalhar sua disseminação. A Wolbachia é encontrada normalmente no ambiente,
e não afeta humanos. Em outros lugares em que a tecnologia foi testada
(Austrália, Vietnã e Indonésia), não houve aumento no número de casos de
microcefalia.
- O zika causa danos neurológicos em crianças de até 7
anos e em idosos.
MITO
A microcefalia é um problema de desenvolvimento
neurológico que ocorre em fetos e é diagnosticado em recém-nascidos. Não há
evidência de que possa ocorrer em crianças de sete anos ou idosos. Essas duas
faixas etárias, porém, requerem mais atenção para os sintomas de febre do zika,
da mesma forma que muitas outras doenças infecciosas que por vezes são
assintomáticas em adultos. Um possível problema neurológico pode ocorrer por
síndrome de Guillain-Barré (veja questão sobre paralisia), que não é específica
de crianças e idosos e ocorre também em adultos.
- O zika é transmitido na amamentação
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado vírus em leite materno, mas
nenhum caso suspeito de transmissão foi relatado. A Fiocruz e o Ministério da
Saúde recomendam a amamentação como prática saudável e ela não deve ser
desincentivada por causa da epidemia de zika, porque os benefícios superam os
riscos.
- O zika é transmitido pelo beijo.
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado em amostras de saliva, mas não
se sabe se ele pode ser absorvido por esse meio por outra pessoa até chegar à
corrente sanguínea. Ainda não existem casos suspeitos de infecção dessa forma.
- O zika é transmitido pelo sexo.
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado em sêmen, e a literatura
médica possui três registros prováveis de transmissão sexual do vírus. A OMS
afirma que os trabalhos ainda não reuniram evidência suficiente, porém, para
provar que essa forma de disseminação do vírus de fato ocorreu e que ela é
preocupante. Mais estudos estão sendo feitos.
- O zika vírus causa paralisia.
INCERTEZA
A presença do zika é suspeita de elevar o número de
casos da síndrome de Guillain-Barré, um evento relativamente raro que ocorre
quando o sistema imune ataca o sistema nervoso, causando paralisia e outros
problemas neurológicos. Estudos epidemiológicos estão sendo feitos para
verificar se essa relação realmente existe, mas está claro que mesmo que o
vírus esteja aumentando a incidência da síndrome, ela só ocorre em um número
minoritário de casos entre infectados.
Médica observa tomografia de bebê com microcefalia em hospital do Recife (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters) |
- A microcefalia vai se espalhar para todo o país.
VERDADE
O Nordeste do Brasil é considerado o epicentro do surto
de microcefalia associado ao zika, mas um aumento relativo na incidência da
doença também já foi notado em outros estados, com menor intensidade. A
associação também já é suspeita em outros países da América Latina e no
Pacífico. Nenhuma área habitada pelo Aedes aegypti, em princípio,
está livre de ver casos de microcefalia associados ao zika no futuro, mesmo que
não sejam muitos.
- É possível contrair zika e dengue ao mesmo tempo.
VERDADE
Já há registros de pacientes que contraíram as duas
doenças em momentos diferentes e não há nada que impeça, em princípio, a
infecção simultânea. Mesmo que os dois vírus não estejam presentes em um mesmo
mosquito, nada impede que alguém seja picado por dois mosquitos, cada um com um
patógeno. Há ao menos um caso registrado de um homem que abrigou
simultaneamente não apenas dengue e zika como também chikungunya na Colômbia.
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