Há três semanas, aprendeu a fazer cimento e emassar parede.
Imagem: Rafael Moraes / Extra![Roberto aprende novas atividades, mas quer voltar para a roça(Imagem: Rafael Moraes / Extra ) Roberto aprende novas atividades, mas quer voltar para a roça(Imagem: Rafael Moraes / Extra )](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_uBYgs_05uqUFmwvYph9pnakEv10ylWPdWXw1_jAE6dMp9u0kiNqnjqiUSYD-pyN3n2fdwVVhEArgPOAIPDuCRWw13PyJazdXd-Zbaspa1U19WDVkQDaxYCr3GRr7Edkjci5F-ub9p4UHSQjq2QSK5ZUXbPZ86iwb2RDe7rXEnit8Dm2OmLXbmUPg=s0-d)
Roberto aprende novas atividades, mas quer voltar para a roçaMantido por dez anos em condições de escravo contemporâneo, Roberto Oliveira, de 36 anos, é, um mês após a fuga e a libertação, um homem irreconhecível para quem o viu quando acabara de sair do cativeiro, no Beco Isadir, a 15 quilômetros do Centro de São Fidélis, no Norte Fluminense. Barba feita, e as bochechas mais redondas. A vermelhidão dos olhos já não se vê, e o sorriso é fácil. O peso já não deixa tão folgadas as roupas, mas ele se sente mais leve. Para o roceiro, a vida mudou. O trabalho como aprendiz de pedreiro rende R$ 50 por dia. No primeiro, realizou um antigo sonho: comprou um pedaço de carne.
— Não comia tinha dez anos. Agora, faço marmita e trago todo dia — contou, com orgulho, e
sem
interromper o serviço.
A gagueira aos poucos diminui. Há três semanas, aprendeu a fazer cimento e emassar parede. Em uma construção à beira da estrada principal da cidade, recebe café da manhã, almoço e lanche. Um contraste com as duas refeições de canjica por dia que fazia no Sítio Angelim, de Girão.
— Ele chegou aqui fraco. Todo dia, trazemos almoço para eles (são três operários), e ele vai com vontade ao prato. Me emocionei quando soube que pagaria o primeiro salário do Roberto — contou Antônio José, seu novo patrão.
O ex-canavieiro quer voltar a trabalhar na roça. Mas, agora, só se for de carteira assinada.
— Ele está aprendendo aos poucos. Não sabia nada de obra. Mas diz que bom mesmo é na roça. Vou levar para minha fazenda, com todos os direitos — diz Antônio.
Roberto não tem contato com os antigos companheiros de cativeiro, mas soube que Davi Pereira Ferreira, de 38 anos, reencontrou a mãe e foi morar fora de São Fidélis. Cirlei Rodrigues Moreira, de 41, está com o pai de criação, em uma região de Campos dos Goytacazes, onde tenta reencontrar os filhos. Pai de Davi, Manoel Pereira Ferreira, de 75, foi convencido pela filha a deixar o Beco Isadir, onde vivia depois de se aposentar e continuar rendendo benefícios à família Girão — o cartão da aposentadoria ficava com o capataz.
A liberdade lhes deu novos contornos, mas os tempos de escravidão ainda assombram.
— Às vezes aparecem umas caminhonetes na porta de casa (da irmã, em São Fidélis). Fico com medo de ser ele (Girão) querendo fazer alguma maldade. Ele ameaçava muito a gente — desabafou Roberto, que não perdeu o hábito de falar com a cabeça baixa.
Os suspeitos, o fazendeiro Paulo Cesar Azevedo Girão, de 58 anos, seu filho, Marcelo Conceição Azevedo Girão, de 32, e Roberto Melo de Araújo, de 38, o capataz, negam as acusações.
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