Agiotagem: a miséria desprotegida


Secretário de Segurança, Jefferson Portela
Não será surpresa se, em breve, Gláucio Alencar Pontes Carvalho, José Alencar de Miranda, Júnior Bolinha e o sanguinário pistoleiro Jhonatan de Sousa e Silva, presos pelo assassinato do jornalista Décio Sá, ganharem companhia na cadeia. É que a Secretaria de Segurança Pública, conforme anunciado pelo titular da pasta, Jefferson Portela, decidiu reabrir o inquérito da agiotagem no Maranhão.
Pode ser que, agora, os maranhenses passem a ter uma idéia do real tamanho desse polvo cujos tentáculos carregaram tanta miséria, fome, violência e desestruturação para inúmeros municípios do Estado. Prefeitos, ex-prefeitos, gestores e empresários envolvidos com a máfia da agiotagem serão investigados nessa nova fase do inquérito, mas é preciso que se diga que, para além do mais cruel desfecho desse crime, a morte do jornalista, sempre a população desconfiou de que ficou muita sujeira debaixo dos tapetes, deixada por quadrilhas que se especializaram em sugar recursos públicos de municípios paupérrimos do Maranhão.
Houve, e talvez ainda haja, casos em que transferências federais das Prefeituras, como FPM, Merenda Escolar, Fundos de Saúde, eram recebidas pelos agiotas ou seus emissários e sicários, na boca do caixa, em agências bancárias do Maranhão. Ao povo, sobrava a desgraça, o desemprego, a falta de leitos hospitalares, a lama das ruas, a falta d’água, de escolas, de segurança, de energia elétrica e até de banheiros. Um crime inominável, uma espécie de genocídio lento, um atentado mortal contra a coletividade.
O inquérito foi engavetado por dedos misteriosos no decorrer do governo Roseana Sarney, sob os auspícios do então secretário de Segurança, e protestos do deputado Raimundo Cutrim que, inutilmente, tentou instalar na Assembléia uma CPI da Agiotagem. Mas, infelizmente, já havia uma determinação no mínimo oficiosa para encerrar o assunto. A população assistiu à prisão do executor e de mandantes da morte de Décio Sá, mas a prática letal de agiotar os cofres públicos deu-se por encerrada com o engavetamento do inquérito.
Outro caso de agiotagem viria à tona. Neste, surgiram como principais suspeitos o então presidente da Câmara, Isaías Pereirinha e seu vice, Astro de Ogum. Os vereadores foram acusados de usar funcionários do legislativo municipal para tomar emprestado dinheiro barato e repassar a juros extorsivos para terceiros. O delegado responsável por esse inquérito, Augusto Barros avaliou, à época, que o esquema movimento R$ 30 milhões.

Ao reabrir esse inquérito, o governo sabe que está mexendo em casa de marimbondos, mas um governo que não defende seu povo não é um governo. O governador Flávio Dino já deixou mais do que evidente que pretende, de fato, governar esse Estado e, dentro de suas atribuições, tem coragem para defender a população. E, enquanto não for completamente liquidado esse corrosivo esquema de agiotagem nos cofres públicos municipais, o povo maranhense enfrentará essa condição de viver a miséria desprotegida.  Blog do JM Cunha Santos

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