Pesquisa com bactéria pode controlar transmissão de dengue

Data: domingo, 23 de março de 2014 | Horário: 23:38

Investigação em desenvolvimento no Rio de Janeiro pode reduzir tempo de vida do Aedes Aegypti e impedir transmissão do vírus da dengue.

O Aedes Aegypti necessita de 10 a 14 dias para transmitir o vírus.

Está em fase de aprovação regulatória no Brasil uma pesquisa que pode ajudar a combater a dengue. Desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, o estudo está implantando uma bactéria em ovos do Aedes Aegypti, vetor da doença, que pode reduzir a vida do mosquito e, assim, impedir que ele consiga transmitir o vírus. A pesquisa foi um dos temas discutidos na apresentação do Painel Multidisciplinar Dengue 2014, que aconteceu no último dia 25, em São Paulo, e reuniu jornalistas e pesquisadores do tema.

A bactéria, chamada Wolbachia, existe naturalmente em cerca de 70% dos insetos, mas não no Aedes. Na mosca da fruta (Drosophila melanogaster), observou-se que a bactéria causa redução do tempo de vida e impede que o animal se infecte com o vírus da mosca. “Os pesquisadores (australianos, de onde a investigação foi trazida) pensaram então que, se conseguissem diminuir o tempo de vida do mosquito, como acontece com a mosca, e, além disso, o mosquito não se infectasse com os vírus de mosquito (como o da dengue), haveria bloqueio da transmissão da doença”, explica o biólogo Gabriel Sylvestre. Ele é o coordenador de Entomologia de Campo do projeto Eliminar a Dengue – Desafio Brasil, da Fiocruz, e apresentou a pesquisa no evento.

O biólogo explica que o estudo implanta a bactéria nos ovos do mosquito e, quando os animais que nascem cruzam com unidades sem a bactéria, são gerados filhotes com a Wolbachia. O objetivo é que o Aedes Aegypti passe a viver tempo que não seja suficiente para transmissão do vírus da dengue.

Pesquisa

Ainda não está decidido pelos pesquisadores qual tipo da bactéria será usada em definitivo. Por isso, não dá para precisar quantos dias o mosquito sobreviverá. “Tem cepa (da bactéria) que reduz um pouco mais o tempo de vida e bloqueia mais o vírus, outra reduz menos. O mosquito que vive normalmente 30 dias, dependendo, passa a viver 15. Mas isso depende. São várias combinações possíveis. A gente vai chegar num ponto ideal. A gente já tem o mosquito brasileiro com a bactéria, mas ainda enclausurado em laboratório”, destaca. Conforme Gabriel Sylvestre, que é mestre em Biologia Parasitária, o Aedes Aegypti necessita de 10 a 14 dias para transmitir o vírus. “Se a gente reduzir o tempo de vida abaixo desses 10 a 14 dias, o mosquito não vai estar capaz de transmitir o vírus. Ele morre antes de poder transmitir. Isso já é um efeito muito bom”, frisa.

Segundo Sylvestre, a pesquisa acontece no País há cerca de dois anos e ainda não há previsão de quando os mosquitos serão colocados em campo.

*A repórter viajou a convite da Johnson & Johnson

NÚMEROS

70% A bactéria Wolbachia existe naturalmente em cerca de 70% dos insetos, mas não no Aedes Aegypti

30 É o número de dias em que o mosquito Aedes Aegypti vive normalmente

SAIBA MAIS

No encontro em São Paulo, além da pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi discutida a presença da dengue no cotidiano urbano, a adaptação do Aedes Aegypti e as possibilidades de vacina contra a doença.

O professor Kleber Luz, do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destacou que nenhuma vacina testada até hoje conseguiu proteger os indivíduos dos quatro sorotipos identificados da dengue.

Segundo ele, apenas uma vacina está em “fase 3” (mais avançada) de testes, com aplicação em cerca de 15 mil voluntários na América Latina e na Ásia.

O professor frisa que em até três anos a pesquisa deve mostrar resultados.

Os estudiosos presentes foram unânimes: é fundamental manter as ações de educação em saúde, com limpezas de quintais e extermínio dos depósitos de acúmulo de água.

Fonte: O Povo

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