Rodrigo Janot deve enviar nesta terça ao STF os pedidos de abertura de inquérito
Cunha e Renan foram avisados de que estão na lista de políticos de Janot - Givaldo Barbosa / Agência O Globo |
BRASÍLIA - Os presidentes da Câmara,
deputado Eduardo Cunha, e do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos
do PMDB foram informados que estarão na lista que o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, vai enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF). A
informação foi confirmada por assessores do Planalto.
Renan não quis confirmar se foi
avisado que será citado pelo Ministério Público. Em entrevista, ao ser
perguntado, Renan respondeu:
— Não tenho nenhuma informação.
Procurado, o presidente da Câmara
informou por mensagem que não recebeu aviso.
"Não fui avisado por ninguém.
Isso é mentira", escreveu Cunha.
Rodrigo Janot deve enviar nesta
terça-feira ao STF os pedidos de abertura de inquérito relacionados às
autoridades supostamente beneficiárias dos desvios de dinheiro da Petrobras.
Ele também deve pedir para o relator dos casos, ministro Teori Zavascki,
derrubar o sigilo das investigações, tornando público todo o conteúdo dos
inquéritos.
Desde a semana passada o presidente
do Senado começou a dar sinais de irritação com o governo. Na segunda-feira,
por exemplo, Renan não participou do jantar oferecido pela presidente Dilma
Rousseff à cúpula do PMDB. Na semana passada, o senador chamou a coalização do
governo Dilma de “capenga” e depois afirmou que houve um “escorregadão” na
política econômica e fiscal.
CONTADORA DISSE QUE RENAN SE REUNIU
COM YOUSSEF
No dia 8 de outubro no ano passado, a
contadora Meire Pôza, que trabalhou para Alberto Youssef, afirmou que o doleiro
se reuniu com Renan Calheiros para acertar investimentos do fundo Postalis, dos
Correios, em uma empresa de Youssef. O encontro, ocorreu em 12 de março deste
ano, cinco dias antes da prisão do doleiro, conforme a contadora afirmou em
depoimento à CPI mista da Petrobras. O montante envolvido seria de R$ 50
milhões sendo a metade aportados pelo Postalis.
No depoimento, Meire afirmou que
parlamentares do PT e do PMDB fizeram as negociações pelos aportes dos fundos
Postalis, dos Correios, e Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF), mediante
uma suposta partilha de comissões com integrantes dos dois partidos. Pelo PT,
as negociações teriam sido conduzidas pelo deputado federal André Vargas (sem
partido-PR), que responderá a inquérito de primeira instância. Vargas e o
doleiro eram próximos.
À época, Renan Calheiros afirmou que
"não conhecia a pessoa mencionada no noticiário como 'doleiro' Alberto
Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações publicadas
pelos jornais'. Ainda segundo nota, Renan "nunca esteve, agendou conversas
e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua contadora".
YOUSSEF E CARECA ACUSARAM CUNHA DE
RECEBER DINHEIRO
Eduardo Cunha foi acusado de ter
recebido dinheiro do esquema da Petrobras pelo agente da Polícia Federal, Jayme
Alves de Oliveira Filho, conhecido como ‘Careca’, que teria entregue a propina
ao deputado. À Força Tarefa da Operação Lava-Jato, o Youssef também teria dito
em delação premiada que Cunha recebeu propina por meio de Fernando Soares, o
Fernando Baiano.
"Também levei dinheiro de
Youssef umas duas ou três vezes para uma casa no condomínio que, acho, se chama
Nova Ipanema, localizado na Barra da Tijuca, em frente ao Barra Shopping, em
uma casa amarela de dois andares, entrando no condomínio, vira à esquerda.
(...) Segundo Youssef me falou, essa é a casa de Eduardo Cunha. Nessa casa fui
atendido e entreguei o dinheiro ao proprietário, mas não posso afirmar com
certeza que seja Eduardo Cunha", disse Careca à PF no dia 18 de novembro.
O GLOBO revelou em janeiro que a
residência, no entanto, não pertence a Cunha. A casa citada pelo policial
federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, como destino do dinheiro da
propina paga pelo doleiro Alberto Youssef, delator da Operação Lava-Jato,
pertence ao advogado Francisco José Reis, aliado do deputado estadual eleito
Jorge Picciani, atual presidente do PMDB do Rio.
Chico Reis, como o advogado é
conhecido na política fluminense, serviu ao peemedebista como assessor
parlamentar, de 1991 a 1997, e como subchefe da 1ª Secretaria da Assembleia
Legislativa (Alerj) entre 1997 e 2001 — quando Picciani era o
primeiro-secretário. Indicado pelo deputado, deixou a Casa para ser conselheiro
da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio (Asep)
e, depois, da Agetransp, a agência reguladora do transporte público no Rio,
onde trabalhou até dezembro de 2013.
Na época, Cunha admitiu que conhecia
Baiano e que o recebeu como representantes de empresas espanholas. Contudo, ele
negou que recebeu propina:
“Conheço Fernando Baiano, sim, ele
era representante de uma empresa espanhola, e já o recebi em meu escritório
como vários outros empresários de outros setores”, declarou Cunha.
Careca também prestou serviços a
Baiano. No mesmo depoimento que admitiu ter entregue propina a Cunha a pedido
de Youssef, Careca revelou que retirou valores na sede de uma empresa que
integra o rol de investigadas pela Lava-Jato por pagarem propina a agentes
públicos e políticos, em troca de contratos da estatal petrolífera.
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