Visto no Palácio do Planalto como o
principal aliado do governo no Congresso, o presidente do Senado, Renan
Calheiros, admitiu pela primeira vez participar de articulação política para
encontrar uma saída constitucional que interrompa o mandato de Dilma Rousseff.
Fez isso num jantar com o Aécio Neves e outros seis senadores do PSDB. O
encontro ocorreu na residência do tucano Tasso Jereissati. Terminou no início
da madrugada desta quinta-feira.
Pela manhã, Renan estivera com Lula.
À tarde, conversara com Dilma. À noite, foi recepcionado na casa de Tasso com
ironias sobre sua disposição para o diálogo. E Renan, entrando no clima: “Pois
é, estive com o Lula e a Dilma. No final, estou aqui, onde me sinto mais em
casa.” Estava acompanhado de outros dois caciques do PMDB no Senado: o líder da
bancada Eunício Oliveira e Romero Jucá. Pelo PSDB, além de Aécio e do anfitrião
Tasso, participaram do repasto o líder Cássio Cunha Lima, José Serra, Aloysio
Nunes Ferreira, Antonio Anastasia e Ricardo Ferraço.
Os tucanos disseram a Renan que não
enxergam saídas para a crise com a permanência de Dilma na Presidência.
Mencionaram uma obviedade: sem o PMDB, o pedido de impeachment não tem chance
de prosperar. E perguntaram francamente ao presidente do Senado se ele cogita
manter o apoio a Dilma.
De acordo com o relato de dois
senadores que participaram da conversa, Renan concordou de maneira muito clara
com a tese segundo a qual Dilma, isolada e sem esboçar capacidade de reação, já
não reúne condições políticas para debelar a crise que deu um tombo de 3,8% no
PIB de 2015 e deve produzir uma recessão próxima dos 4% também em 2016. Eunício
e Jucá ecoaram o mesmo entendimento.
Embora houvesse entre os presentes
uma aparente maioria a favor do impeachment como fórmula menos traumática para
afastar Dilma, a reunião não foi conclusiva quanto ao caminho a ser seguido.
Nem era essa a pretensão do tucanato ao organizar o jantar.
O objetivo era obter de Renan uma
posição sobre a inviabilidade do governo Dilma. Admitida a premissa, novas
conversas serão marcadas, incluindo outros interlocutores. Entre eles,
lideranças da Câmara, a Casa legislativa que tem poderes para autorizar a
abertura do processo de impedimento de Dilma.
Segundo relatou aos tucanos, Renan
repassou a Lula e Dilma sua avaliação sobre a precariedade do governo. Disse a
ambos que a gestão Dilma sofre uma espécie de apagão de comunicação. Não se
comunica com o Congresso, com os empresários e com a sociedade. Por
necessidade, mantém um diálogo frágil apenas com os movimentos sociais.
Durante o jantar, o alagoano Renan
revelou um dado que diz ter retirado de pesquisa de opinião que mandou fazer na
capital de Alagoas, Maceió. Dilma aparece na sondagem com uma taxa de 61% de
péssimo. “Não é ruim e péssimo, é apenas péssimo”, Renan fez questão de
enfatizar.
Se não for fogo de palha, a migração
de Renan deixa Dilma em apuros. A presidente contava com a solidariedade do
presidente do Senado para barrar eventual processo de impeachment aprovado na
Câmara. Contava com ele também para se contrapor, dentro do PMDB, à ala que
prega explicitamente a aprovação do impeachment. Em direção oposta, Renan vem
estreitando sua inimizade com o vice-presiente Michel Temer, beneficiário
direto de um eventual afastamento de Dilma.
Havia entre os presentes uma noção de
que a causa do impeachment avançará mais facilmente quanto maior for o ronco
que as ruas emitirão no domingo. Do uol
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