Do: cidadeverde.com
A Polícia
Civil trabalha com hipótese de aliciamento no caso do garoto de 13 anos deixado
na Colônia Agrícola Major César. O pai do menino revelou que o preso -
que ficou na cela com seu filho - ajuda a família. A Polícia investiga se o detento prometia presentes
para os filhos do casal.
Em depoimento, o menino disse já ter dormido no
presídio anteriormente. Ele passou quase 16 horas dentro do local, que tem
capacidade para 290 detentos, mas abriga 380.
O garoto foi levado ao presídio pelo próprio pai que
negou ter recebido recompensa financeira para deixar o filho com o preso na cela.
Ele disse que o detento - José Ribamar Pereira Lima, 65 anos - é seu
"compadre" e que não viu nenhum perigo em deixá-lo lá.
Segundo policiais, o pai do garoto disse que o preso
ajuda a família e às vezes dá presentes para os filhos. Questionado pela reportagem,
o pai só confirmou receber a ajuda na alimentação. "Ele [o preso] dá
algumas coisas para a gente comprar arroz, feijão."
COLEGA
DE PRISÃO
"Foi o menino que pediu para ficar com ele [o
preso]. Eu deixei porque no outro dia ia trabalhar lá [no presídio]. Não sabia
que ia dar o BO. Eu não sabia que ele era estuprador, ele me enganou e me disse
que tinha apenas matado a mulher", afirmou o pai do menino deixado na
cela.
Já a mãe do garoto disse à polícia que o filho ficou no
presídio sem sua autorização.
O detento Pereira Lima negou que tenha abusado do
menino de 13 anos, mas não quis dar mais detalhes.
Na delegacia, o pai do garoto disse que conheceu o
preso há dois anos, quando foi condenado a dez anos por estupro de vulnerável e
cumpriu a pena em regime semiaberto. Os dois dividiram a mesma cela na colônia
penal e, há seis meses, o pai ficou livre.
"Vim visitar meu compadre, trabalhávamos na
plantação de feijão, melancia e produção de carvão", disse.
Após deixar o filho no presídio e retornar à cadeia no
dia seguinte, o casal recebeu ordem de prisão e foi levado para a central de
flagrantes de Teresina. Após depoimento, foram liberados. A criança continua
com os pais.
Laudo de exame deu resultado negativo para estupro do
menino, mas o delegado Jarbas Lopes de Araújo Lima, que investiga o crime,
disse não descartar que o garoto tenha sofrido abuso sexual. "Não está
descartada a prostituição infantil e vai depender do depoimento do menor, dos
pais e do detento."
A polícia abriu inquérito e ouviu nesta terça (3) o
garoto, os pais e o preso. Segundo o delegado, ao menos dois crimes já estão
configurados: abandono de incapaz e ato vexatório contra a vítima.
A Secretaria de Justiça do Piauí abriu sindicância para
investigar o caso. A investigação, que deve ser concluída em 30 dias, vai
apurar em que circunstâncias a criança foi deixada na unidade e apontar
responsáveis pelo ocorrido.
NOÇÃO DE
GRAVIDADE
O garoto disse ao Conselho Tutelar que ficou no
presídio porque o pai pediu. O menino prestou depoimento a um grupo composto
por conselheiro, psicólogo e assistente social.
"Ele relatou que não foi abusado e que, quando o
pai estava preso, ele dormiu também no presídio junto com sua mãe", disse
o conselheiro Romeu Santos Araújo.
O garoto e os pais moram em Mucuim, zona rural de
Teresina. O conselheiro informou que o garoto não estava visivelmente abalado
"por não ter noção da gravidade".
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